quarta-feira, 21 de julho de 2010

Into the City

Um infortúnio, reflexo de um mero acontecimento - por mais insignificante que seja - assume o poder da mudança. Na realidade, traz consigo a capacidade de ruptura. Designa, e altera consigo o rumo de vida carregada de monotonia. Vem, e modifica rotinas instaladas. Clichês diários implantados à força, que se movimentam por si só. Conjecturas de vidas vestidas a cinza sem alma.

É assim que a vejo. É assim, que a tenho e a sinto. Observo o turbilhão matinal sentado à mesa de um qualquer café, enquanto rabisco perdido no moleskine. O turbilhão que por momentos quase esqueci, quando não estou aqui. Analiso estupefacto o ADN complexo da cidade que já se agita, diante mim. A imensa cidade. Levanto-me e deixo-me ir então por entre eles. Ao sabor da brisa matinal. Os eles, que são a multidão apressada e barulhenta. Aqui existo. Apesar de ser mais um. Uma cara desconhecida por entre outras, a quem ninguém esboça um bom-dia convicto. Por um momento questiono-me, se somos todos invisíveis aos demais. Dizem que a culpada é a maldita pressa. A mãe das desgraças que a todos nos rouba constantemente. A azáfama, matou por fim os bons e antiquados modos tradicionais. Somos só parte de uma unidade e identidade comum. De um todo, conjucturado de unos, que formam o muito - às vezes pouco - designado por marcha de seres humanos robotizados. Já avisto os múltiplos edifícios de personalidade espartana. À medida que me encaminho na sua direcção, engolem-me face à miniatura do meu ser. Nas ruas de calçada, deparo-me com sonhos à solta. Vejo-os a segredar no canto de uma esquina solarenga. No rosto fechado de um engravatado acelarado, destilando pretensões, sem tempo a perder para a mínima paragem. No velho de expressões vincadas pelo passar dos anos, assentes no rosto triste. Enclausurado ao mesmíssimo banco gasto e sujo do jardim de há anos para cá. Não há quem não contenha a sua quota-parte de devaneios. Acompanhados e servidos por vezes, de algumas pitadas dispersas de bom-senso.

Encolho os ombros, e comprimo-me ainda mais no meu lugar à janela no metro. Navego à velocidada da luz, enquanto vou erguendo no meu interior ideiais de um futuro que se quer pintado de cores radiosas. Deixei o velho e corrosivo passado na estação, que já fica para trás, numa distância segura, ao que à vista diz respeito. Movi-me, soltando a uniformidade disforme que ainda amparava.

10 comentários:

Anónimo disse...

Amei :)

Susana Aires disse...

Deixa o espírito colorir a tua vida.. saboreia pequenos prazeres e sonha alto...

beijos

L.A disse...

Sabes que gosto de tudo o que escreves, mas este texto em especial arrepiou-me. sem duvida, na minha opiniao, dos melhores que ja escreveste (:

O Segredo disse...

gostava k desses uma saltada ao meu blogue espero k gostes

http://seggredo.blogspot.com/

Anónimo disse...

Por norma atë aceito os meus medos de forma erguida com o objectivo de ultrapassar. Mas realmente alturas e' algo que me custa bastante!

Como ja' te disse antes, gosto mto dos textos que escreves. Acho-os fanta'sticos!

Beijinho Enorme*

Anónimo disse...

pior é quando já passamos por tudo antes, demos oportunidade e voltamos a cair no mesmo erro, vendo de novo as lagrimas :x

tens uns textos fantasticos, tambem ja reparei que passaste por uma fase menos boa ha pouco tempo atras, espero que estajas melhor (:

beijinhos *

L' disse...

Uma crónica muito boa, continua :D
Beijinho

g disse...

Que bom e bonito texto :)

O psicolouco disse...

Ótimo escritor!
Parabéns...!
seguindo.

Marta disse...

Obrigado pela descoberta e por seguires :)
tambem gostei imenso do teu blog, e este texto é qualquer coisa!
Parabens, continua *