
Com a proximidade vai-se aguçando o interesse, incendeia-se a fogueira dos sentidos. Frases tornam-se cúmplices, claras, assustadoramente perceptíveis. Trazem-te acorrentadas contigo, acompanhadas da tua essência sem significado. Melodia melancólica e corrosiva no virar de uma página que se desfolha, que se desgasta, ficando para trás esquecida. Talvez nunca mais visitada. Limitando-se a ser peça que proporcionou vida a um enredo montado e contínuo. Espreitas-me dessa fresta figurada, vislumbre do teu aroma que se apaga. Por momentos momentâneos o teu perfume ataca-me o sistema nevrálgico. Confunde-me as coordenadas. Vislumbro-nos separados no papel límpido e incólume de uma obra que ninguém ousou tocar. Por breves instantes dura uma luta de colossais gigantes com a complexidade dos destinos que não tem decifração. A bem dizer - temos tão pouco um do outro. Nada que nos una, que nos sustenha um no outro. Tal e qual como no firmamento, separados por galáxias disformes e tremendamente remotas. És sentimento oco, sem nome nem rosto a quem atribuir transgressão. Às vezes chegas-me às mãos sem saber de que destino acorres. De que autocarro desceste. De que braços te desprendeste e encostaste a mim. Desconheço de que cruzada advéns. Assaltas-me o pensamento e trocamos palavras corriqueiras de quem mais nada tem para apresentar e partilhar e ficamos assim - suspensos sem propósito. Hoje cruzei-me contigo em palavras que não são minhas, muito menos saídas do teu esboço. Palavras que nada nos dizem, a outros dirigidas. Encontrei-te impingida em letras de desconhecidos. De terceiros que pareciam tanto de nós saber. Pareciam sussurrar segredos nossos. Por nós trocados em tons soltos de confidência em cidades e locais que se desmoronaram.
Já nada tenho de ti, uma mera fotografia que me faça avivar a memória que partiu para longe numa viagem sem destino nem regresso. Selámos malas carregadas e bagagens acondicionadas de sentimentos agridoces. Nunca trocámos despedidas nem promessas de voltarmos a destinos onde fomos felizes. Ninguém o fez face à sensação de ter batalhado numa guerra santa sem fundamento. Hoje encontrei-te no local mais improvável de te ter descoberto. Quando olhei bem para ti vivias em mim alojada, clandestina sem pagar aluguer. Assustei-me com a descoberta, com o facto absurdo com que me deparei e por lá te deixei habitar. Encerro-te em mim para não ter que conviver com o fantasma que assombra o nosso livro quimérico de recordações.
7 comentários:
Palavras muito bonitas, às quais não conigo ficar indiferente... Fez-me recordar momentos em que também sentia o mesmo...
esta fantastico mesmo :)
beijinhos
E agora deparo-me vazia de palavras... Quem diria?? Tudo que leio aqui faz-me sempre divagar e fico cada vez mais fora do mundo. Gosto da forma como escreves mas principalmente gosto da forma como sentes. Ainda não se plagiam corações mas caso o fizessem o teu seria decerto um alvo para esse acto ilícito. Por isso, deixo-te aqui um beijinho para ele, pode ser que o aconchegue nessa horas menos solarengas do teu dia. ^^, *
As memórias que não descolam da mente... essas é que são difíceis de apagar.
Quem não tem um fantasmas desses dentro dele que levante o dedo.... alojam-se e não querem sair mesmo que estejam quase a ser expulsos, bjs
e desta é daquelas vezes em que os rapazes superam as minhas expectativas... muito bom
escreves tão bem!
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