
Tento apressadamente fugir à vulgaridade com que me assemelho. Sombra de um Eu maior, que passeava triunfante, com a perdida e longínqua áurea, que agora se desvanece em pedaços desconformes. Quando quase te encontrei naquele acaso, como sempre acontece, pensei estar insano e perdido. Ter batido à porta errada. Olhei a rua duas vezes, num trejeito de confirmação. Observei-te e continuavas no mesmíssimo local, onde te encontrara. Ali estavas tu, davas-me troco, parecias feliz. Fazias-me crer vencer a curta distância que nos sustinha separados. Senti-me num ápice abastecido de contentamento. Vi-me impelido como um satélite fora de rota e controle, de encontro à tua invulgar capacidade de preencher os meus dias sisudos, transformando a minha expressão facial em sorrisos que perduram. Senti-me tentado a retribuir-te na mesma moeda. Mas assim que olhei para mim, encontrei-me de mãos cheias de um nada que se esvazia perante o tudo que era a tua feição imaculada. A mim confundi-me com a ninharia, que tudo lhe falta. Vejo-me correr neste circuito fechado, neste círculo demasiado perfeito, de modo a apresentar brechas por onde escapar. No percurso nenhuma escapatória possível fora detectada, a fim de virar costas a esta triste dormência, velho fado sabido.
Sempre falho. É fácil falhar quando me vejo no papel principal, maestro de banda que não afina, tentativa após tentativa forçada. Não gosto de domingos, como poderia não gostar de sábados. Afligem-me a alma, consomem-me o calor que vai sobrevivendo ténue. Em paralelo com a relatividade da tua presença espiritual, física ou vice-versa. Tudo é relativo quando não partilhamos o mesmo chão. Quando não existem mãos apaziguadoras para acalmar. Lembro-me de despedidas forçadas, efectuadas em domingos nocturnos. Ruídos de comboios estridentes a partir rumo ao desconhecido pardo. Ficam os sonhos que não ousamos contar, ou mesmo realizar. Falta de coragem ou medo de ir mais além, há quem diga.
8 comentários:
Uau escreves super bem! Que fluidez ..
Brilhante! Revi-me nestas tuas palavras e senti uma certa nostalgia...
"Ficam os sonhos que não ousamos contar, ou mesmo realizar. Falta de coragem ou medo de ir mais além". Por vezes, é mesmo isto que eu sinto...
Parabéns por mais este belo texto!
Quando for grande quero escrever como tu! :)
Também não gosto de domingos, há quem diga que é dia de descanso, para mim, tem sabor ao desassossego de um 'Adeus' que não se diz, mas que nunca deixa de se concretizar.
Beijinho* ^^,
Muito bem escrito!
Parabéns!
Os domingos têm esse dom de despoletar em nós um sentimento de nostalgia, de apatia... bjs
gostei do teu blog , da tua escrita e dos teus gostos musicais (:
convido-te a seguires o meu blog*
Está brilhantemente escrito. Gostei muito (:
oh, escrita maravilhosa, continua a escrever (:
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