domingo, 14 de junho de 2009

Crónica de uma noite nos Santos Populares de Lisboa




A verdadeira demanda começou com alguns obstáculos a terem que ser vencidos, no início, espreita o tão já corriqueiro e tradicional atraso, por entre umas garfadas no jantar meio frio e esquecido e uns retoques frente ao espelho, saio de casa em passo apressado, sem antes conferir se nenhum pormenor fora descurado, tudo a posto, vamos lá! Pela frente espera-me uma viagem de cerca de dois quartos de hora feita de carro até ao Barreiro, os trinta e poucos quilómetros são vencidos e deixados para trás sem dificuldade aparente, e rapidamente o local do encontro afigura-se-me no horizonte: Estação de barcos. Porque isto de ir de carro para Lisboa em noite de S. António é um filme, daqueles de teor negro, que não aconselho a ninguém, nem mesmo ao meu pior inimigo.

A azáfama é enorme, a massa humana que se condensou e optou pela mesma opção de fazer o trajecto que une as duas margens do rio até à capital, é maior do que o meu gosto pessoal suporta, visto que não sou grande apologista de multidões enlatadas em caixas de sardinha. Contudo o trajecto é rapidamente vencido, e por entre as primeiras e virgens gargalhadas da noite, conversas cúmplices em tom mais elevado que o bom senso impera, o clima contagia-se e torna-se festivo. Observando os que me demais rodeiam, e confirmo sem grande esforço que o entusiasmo é latente, é de facto geral, hoje é sem sombra de dúvida, uma noite de folia, as suas faces espelham bem o estado de alma que as acompanham.

A chegada a Lisboa é acompanhada já de uma forte melodia no ar, se bem que os primeiros acordes perceptíveis me soem estranhamente a sotaque brasileiro, no mínimo estranho. O cheiro tão característico de sardinhas assadas envolve e dança no ar, com se de uma sintonia perfeita se trata-se. A partir de agora é entrar na onda, ser um entre os demais, que de sorriso nos lábios e algum espírito missionário vão deambulando com sôfrego por ruas estreitas, esquinas íngremes, becos desafogados e bairros como tanto de genuíno como de velho, apinhados de multidão. E eis que se afiguram também alguns rostos familiares, os cumprimentos calorosos, são de curta duração, pois o corrupio do movimento assim obriga.

Ao longo de bairros como a famosa Alfama ou o velhinho mas animado Castelo, vão-se desenhando e dispondo de encontro a um sem número de edifícios, barracas de “comes e bebes” improvisadas, muitas delas nasceram certamente umas horas antes, compostas e engalanadas com balões e cores fortes e berrantes, emprestam um colorido especial à noite,à cidade, e chamam à atenção, até dos mais distraídos. Por entre uma sardinha assada no pão regada com um copo de sangria à mistura, a festa impõem-se, a festa faz-se! Em redor detecto uma ou outra escaramuça sem grande importância, incapaz de demover ou mesmo assombrar o espírito alegre que preenche as ruas por onde deambulamos.

Deixo-me ir por entre o sufocante rio de multidão desconhecida que interage numa toada familiar, sem destino aparente, que não pretende desaguar em nenhum local especifico, a maré humana não para, e as horas vão-se sucedendo, umas atrás das outras. Vivem-se acontecimentos, bebem-se copos, socializa-se com o próximo, troteia-se esta ou aquela melodia de cariz mais popular, o relógio não dá tréguas e a noite vai-se lentamente substituído pelo romper de mais um amanhecer, mas um dia, mais um ano!

5 comentários:

Chamem-me o que quiserem - desde que me chamem. disse...

Bom Rebelde:
Deixo-te aqui o meu agradecimento público, pelo coment mais longo, simpático e mais cuidado que tive, nesta minha curta existência na REDE!
Reafirmo que gosto do que escreves (apesar de não escrever muito no blog, pois acho que a maior parte das pessoas~só passa pelas coisas e não fica nas coisas a ler, escrevo de forma semelhante à tua; revejo-me na tua escrita). Em relação ao "descOrado", sem pretenciosismos, recomendo-te este link http://ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=16454
Fica bem!

S* disse...

Nao gosto muito de grandes misturas, de andar no meio de uma montanha de gente que não conheço. Incomoda-me.

Marta Inês disse...

não fui capaz de ler o teu post todo mas deixo aqui o comentário so para agradecer teres visitado o meu blog. lol

beijinhos*

Brid disse...

AI!!! Tenho tanto para estudar que ainda não consegui tempo para ler o teu post... mas eu prometo ler!! LOL

Beijinho xDDD

Maria disse...

Também fos.te ?
beijinho.